sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A caixa de Anne




Era uma caixa pequena  e desbotada, assim que a olhou Anne sentiu uma dor e abriu. E lá estava tudo que ela mais temia, seu passado. Todas as lembranças que ela havia tentado esquecer, tudo de feliz e triste. Ela queria fechar a caixa e a guardar, mas a nostalgia era demais para que ela pudesse fazer isso. A caixa tinha: uma carta, várias fotos, uma flor, uma anjinha de porcelana e cadernos.
A carta era de sua melhor amiga, Barbie, na carta ela dizia como a amizade delas seria eterna, havia sido escrita durante o ensino médio. Passaram-se vinte anos e elas não tinham se falado nos últimos dezoito. Pelo jeito a eternidade dura pouco.
Em uma das fotos estavam Bill, seu antigo namorado, seu cachorro Max e ela. Aquele havia sido um dia feliz, eles tinham se divertido muito e Bill pediu para um estranho tirar uma foto deles. Ele disse a ela ainda naquela noite que amava e ela respondeu um tímido “eu também” e o abraçou, sem muita certeza de que eles estavam conscientes do que era o amor.
A flor havia sido entregue por seu pai em um dia que ela brigou com Bill e chegou chorando. O pai dela disse a ela que ela sempre seria sua garotinha e explicou como o amor podia nos fazer sofrer, mas que o tempo curava todas as cicatrizes.
A anjinha de porcelana havia sido algo que ela comprara em um intuito de proteção, depois da morte de sua mãe. Ela tinha perdido a mãe aos 11 anos e todas as noites conversava com a anjinha como se fosse sua mãe. Ela pedia ajuda, pedia que a mãe aparecesse para ela, só para conversarem. Ela nunca apareceu e Anne deixou de acreditar em anjos.
Os cadernos eram seus diários, ela começou a lê-los, não demorou muito para que lágrimas e sorrisos se tornassem coisas involuntárias, cada palavra escrita a remetia a uma lembrança, o dia da morte de sua mãe, seu primeiro beijo, a tarde na casa de Barbie fazendo doces, seu aniversário de 15 anos, a saudade da mãe, a nova namorada do pai que tinha cara e jeito de bruxa, o fim do namoro porque Bill ia se mudar e na última página que ela havia escrito “Chega de diários, não sou mais uma garotinha” e também havia uma foto, era Anne com 16 anos.
Seu pai havia dito que o tempo curava tudo, mas ele estava errado, nada era curado, tudo era escondido, mas um dia tudo voltava e com mais intensidade. Todas as opções, tudo que ela podia ter feito e não fez, toda a alegria, aquela pequena caixa trouxe a tona. E ela chorando no chão do quarto percebeu, ela ainda era uma garotinha, que sentia falta da mãe, odiova a madrasta e amava Bill.
Anne segurou a anjinha em suas mãos e disse “ Onde quer que você esteja, volte para mim, eu preciso de você, eu estou grávida mamãe.” Bill chegou nesse momento, viu sua esposa daquele jeito e aquilo o partiu o coração. Sentou ao seu lado e viu o que estava na caixa, ele sorriu e pegando a foto dos dois disse “ Certas coisas nunca mudam.” Ele a abraçou e a disse que a amava e ela respondeu com beijo. Porque dessa vez não eram necessárias palavras,  tinham certeza que era amor.
A verdade é que todos nós mantemos uma caixa que um dia traremos a tona, e ela sempre nos fará frágeis, pois o passado nunca será mudado, erros e arrependimento, alegrias e tristezas, não podem ser mudados, eles são parte de nós. Então abra a sua pequena caixa de uma olhada, avalie todas as amizades, amores, decisões, perdas, momentos, tudo que acha importante e depois a guarde. Porque o que você aprendeu com ela é o que deve ficar. E lembre-se: só porque acabou não significa que não existiu. Afinal, assim é a vida.

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