quinta-feira, 22 de julho de 2010

Não idealizar




Ela era uma garota de 16 anos. Ele era um garoto de 17 anos. Eles não eram se quer amigos. Ela o idealizava. Ele a achava “gostosa”. E foi assim que tudo começou.
Não era preciso muito para que Luiza se sentisse zonza, somente que Marcos aparecesse perto dela. Marcos era o “bonitão” ele era considerado o garoto mais lindo da escola e todas o desejavam, e o pior é que ele sabia disso. Luiza era bonita, simpática, mas tinha a péssima mania de idealizar as coisas, especialmente Marcos. Ela julgava amá-lo, que ele era o seu príncipe encantado e ela estava convicta de que tinha que conquistá-lo.

Ela fazia de tudo para que ele a notasse, e como ela era bonita, ele a notou, logo a chamou para ir a uma festa na casa de um amigo dele. Ela aceitou. Ficou muito feliz pelo convite e gastou toda a sua mesada na produção para a festa de sábado à noite, já estava imaginando com seria romântico, como ele a pediria em namoro no próximo mês e que todas as outras garotas de escola a invejariam.

Era sábado, Luiza já estava pronta ás dez da noite, sendo que a festa começava ás onze. Ela estava linda, ela estava linda só pra ele. Quando se olhava no espelho não imaginava como era bonita, mas sim como queria que ele a achasse a mais bonita.

A festa foi ótima para Luiza e para Marcos, eles ficaram. Ela estava muito feliz por isso, contava a todos que via. Ele percebeu a felicidade dela, e se aproveitou disso, a chamou para ir para o quarto do seu amigo. Ela ficou meio em dúvida, mas quando ele disse que se ela o amasse de verdade ela iria, Luiza não pensou duas vezes e aceitou.

Ambos sabiam o que ia acontecer, eles iriam transar. Marcos estava feliz por isso, Luiza também, só que ela já idealizava. Não via o fato de que sua primeira vez iria ser com um garoto que ela só tinha beijado hoje e conversado 32 vezes(sim, ela havia contado), no quarto de desconhecido e em uma festa que todos viam e percebiam o que estava acontecendo. Ela enxergava que teria a sua primeira vez com o amor de sua vida, que também a amava e a desejava mais do que tudo, em um lugar azul como o céu e com todas as outras a invejando.

Na segunda feira Luiza era o assunto da escola, mas ela não ligava, afinal tinha o seu Marcos, ou pelo ou menos achava que tinha. Até que ela foi falar com ele. Bem, ele não foi muito atencioso com ela. Ela culpou o professor de matemática, pela falta de atenção. No recreio ela o abraçou, mas Marcos a disse, perto de outras pessoas, que ele não saia com vadias mais de uma vez e que era melhor ela para de correr atrás dele.

Luiza chorou, pela primeira vez ela não idealizou nada, só sentiu, viu a realidade, e correu para o banheiro. Ela não conseguia acreditar, como ele podia ter feito isso com ela? Eles haviam feito amor, ele havia sido carinhoso. Tudo estava saindo como ela havia imaginado, como queria.  Era o seu conto de fadas.

Os dias de passaram, Luiza foi motivo de chacota. Todos riam dela, ela ligava, odiava todas aquelas pessoas sem coração e más. Ela chorava na maior parte do tempo, pensava que não conseguiria aguentar toda aquela dor, queria morrer e quase o fez, mas quando estava com os comprimidos da mãe em uma mão, imaginando como seria a morte. Ela pensou em si, nos seus sonhos, no seu futuro, e por mais incrível que pareça ela não idealizou nada, aceitou tudo, se levantou e decidiu viver por ela. Ser linda, inteligente, divertida, pra si própria.

Hoje Luiza tem 26 anos trabalha como advogada de uma firma de sucesso e tem uma carreira promissora, ela está ainda mais bonita e saindo com um cara legal, ela não o idealiza. Luiza se ama mais do que tudo, e isso faz esse cara legal também a ame acima de tudo. Ela não demonstra expectativas, ele vai a pedir em casamento. Ela não vai aceitar, a não ser que ele espere a até ela fazer 30 anos. O cara legal vai esperar.

Luiza não sabe muito sobre Marcos, só que ele trabalha como entregador de pizza, tem problemas com o alcoolismo e namora o seu amigo que dava muitas festas. Não o odeia, senti gratidão por ele, afinal se ele não tivesse feito o que fez, hoje ela não estaria onde está. Talvez ela não fosse uma mulher que é.

Todos os dias quando ela acorda, se olha no espelho e não vê em seus olhos, aquela garota ingênua que há 10 anos viveu por um cara e pensou em desistir porque se deu conta que ele não vivia por ela. Hoje ela vê uma mulher que vive por si mesma e ama a vida. Ela sorri e pensa como ela está linda, não pra um cara, mas pra ela. E que finalmente as outras a invejam, mas não só por um cara, a invejam principalmente por ela ser como é, destemida e confiante, e não precisar de um cara para se sentir bem.

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