domingo, 31 de outubro de 2010

Mascarado pela força.


Rafael era um garoto de 16 anos muito aplicado nos estudos, não tinha muitos amigos, na verdade só tinha um amigo. Na escola ele costumava apanhar constantemente dos “machões” que diziam que ele era gay. Aquilo machucava muito Rafael, mas ele não podia fazer nada sobre isso a não ser aceitar calado, já que se ele fizesse algum tipo de queixa na direção não haveria resultado, na verdade haveria, ele apanharia mais, e além de gay seria dedo duro.

De todos os garotos que batiam e xingavam Rafael um deles costumava fazer isso com uma certa frequência, ele havia começado com o bullying, seu nome era Jacinto, mais conhecido como “Cintão”. Ele era forte e alto, também era incrivelmente popular na escola, podia ser considerado o Alfa da turma. Rafael vivia se perguntando que talvez se Cintão não tivesse começado a chamar ele de gay, ele poderia ter terminado o ensino médio como um aluno invisível.

Todos os dias, Cintão e seus amigos xingavam Rafael e o faziam passar vergonha. Certa vez escreveram em seu armário de batom que ele era um gay. A escola inteira já acreditava na homossexualidade de Rafael, até mesmo boa parte de seus professores que solicitaram que ele visitasse a psicóloga do colégio. Ele sofria muito com isso, ele não era homossexual, até era apaixonada por sua vizinha que não dava moral para ele. Mesmo com todo sofrimento Rafael aceitava tudo calado.

Em casa Rafael era um exemplo, a vizinhança toda o admirava. Ele vivia com a mãe de 54 anos e um irmão de 14 anos, seu pai havia morrido há seis anos, ele sentia muito falta dele. A família tinha condições financeiras boas graças a mãe que tinha dois empregos como secretária. A vida mostrou a Rafael como ele devia seguir seu caminho, ele queria ser rico para dar tudo do bom e do melhor para a família, como seu pai teria feito se estivesse vivo. Por isso Rafael nunca contava a mãe o que passava na escola, ela já tinha preocupações demais.

Em uma certa manhã de sexta feira quando Rafael estava saindo para o almoço, Cintão e seus amigos o pegaram e levaram até um carro na saída. O seguraram e colocaram um vestido nele, o maquiaram e tiram fotos. A essa altura o colégio inteiro estava vendo o que estava acontecendo, a maioria ria, os que não riam também não faziam nada há não ser olhar.

Eles gritavam “Boiola”, eles o xingavam e tiravam fotos. Rafael não aguentou, começou a chorar e a gritar, disse a Cintão como ele era ruim. Como ele estava cansado de todas aquelas pessoas, ele chorou e gritou para que o soltassem logo. Cintão o soltou e Rafael por uma fração de segundos jurou ver remorso nos olhos de Cintão. Quando estava saindo dali percebeu que a maioria ainda continuava rindo, que mesmo depois  de mostrar  a sua dor, eles ainda riam dele.

No outro dia na escola o Diretor pediu para que todos fossem até o auditório que ele tinha uma notícia a dar. A notícia era que Rafael havia se suicidado. Desta vez não houveram risadas. Todos haviam ficado em choque, se sentiam culpados, os que riram por terem rido, os que xingaram por terem xingado e os que não fizeram nada por não terem feito nada. Mas o Diretor não se contentou, perguntou a seus alunos qual deles iria explicar a uma mãe desolada que seu filho havia se matado por causa de bullying dos colegas.

Mas o Diretor também recebeu uma pergunta, o único amigo de Rafael perguntou se ele já havia se explicado a mãe desolada que mesmo sabendo do bulling nunca fez nada para que ele acabasse. O Diretor chorou. Os Professores e alunos choram.

O velório era o oposto da vida que Rafael viveu, era cheio de pessoas que queriam o ajudar, só que não servia de nada mais, afinal ele estava morto. A mãe e o irmão de Rafael estavam inconsoláveis. Naquele caixão estava um jovem com um futuro brilhante, mas que não tinha aguentado tantas agressões e maldades, uma criança que havia suportado o máximo de dor até sucumbir . E todos da escola de Rafael sabiam que os verdadeiros assassinos de Rafael eram eles.

E quando o Padre perguntou se alguém desejava falar algo, alguém levantou a mão e causou surpresa. Cintão estava com os olhos inchados e abatido, ele simplesmente disse “ Me desculpe Rafael, por tudo. Eu me arrependo muito de tudo que fiz, mas eu me arrependo mais de algo que eu não fiz, eu nunca te disse o quanto eu amo você”.

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